Será que as tempestades têm um propósito em cair? Pediriam os ventos perdão por soprar e levar as sementes e o pólen e ser como são? Não podemos pedir perdão por ser humanos, por viver, por amar e rir, por chorar e sofrer, por querer a condição de sonhar... O mundo, disseram que é falso os contos dos contemplativos perdidos. Eles chamaram tudo que é real de ilusão, e os fantasmas das ideias, das sensações loucas, dos tremeliques, da sua fuga extática, chamaram de verdade. Tudo ao avesso? Real é estar aqui com os meus e com os outros, nossos laços e nossos conflitos, nossas lutas... É real a mortandade gratuita, o nascimento de bebês, de ideias, a escravidão dos bichos e a presunção de seres canibais, o orgulho monumental, os uivos das geleiras a sangrar, o som metálico dos dentes maquinais, o zumbido das mensagens que cruzam o espaço atmosférico. O que eu sou é real agora em seu estado atual. O que sonhamos é real na medida da ação. 27/04/2020 - São Paulo