Criticando ideias ascéticas
"Aquele que não põe ninguém em dificuldades e a quem ninguém perturba, que é equânime na felicidade e na aflição, no medo e na ansiedade, me é muito querido."
Baghavad Gita 12.15
Nesse texto hindu, supostamente o deus supremo se agrada com pessoas que demonstram características de pacifismo total e imperturbabilidade diante das dificuldades.
O que significaria não colocar ninguém em dificuldade? Em algum sentido, existir e ter uma perspectiva própria vai ser um pouco incômodo para outras formas de vida. A existência humana tem um impacto no planeta e nenhum convívio é totalmente neutro. A ideia de se anular para evitar colocar nossas demandas diante das relações humanas é perigosa e conservadora tanto na macro-política (abaixar a cabeça diante de qualquer exploração e opressão) como na micro-política (aguentar abusos e se submeter ao privilégio sem questionar o que nos é devido).
Bom seria, então, de uma perspectiva materialista, perturbar muito e falar de coisas incômodas para uma sociedade que tenta fingir que é natural seu comportamento e que se vitimiza quando colocamos questionamento.
Vamos colocar em dificuldade quem precisa ser colocade. Especialmente patriarcas, burgueses, homem cis hétero, pessoas capacitistas e supremacistas brancas, radfem etc.
O que significa ser equânime diante de situações felizes ou infelizes? Em algum sentido, seria o ideal não ser totalmente vulnerável aos sofrimentos que a vida traz, mas nem sempre é possível. Somos pessoas de carne e osso com emoções. O ideais ascéticos querem nos incentivar a fingir uma resistência sobrenatural que não é sequer saudável. Temos que poder sentir as emoções negaticas e sofrer, admitir nossas limitações e, de maneira natural, expressar felicidade e celebração diante de vitórias e bons ocasos.
Ou seja, vamos botar emoção na vida e sair dessa vibra de se tornar uma pedra agradável a esse deus.
Se existisse esse tal Vishnu, seria bom não lhe ser muito querido!
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