Espiritualidades do além e suas evidências

Os praticantes dos caminhos meditativos estão hipnotizados por frases inteligentes em meio a narrativas supersticiosas (outras vidas, justiça cósmica e apassivamento da personalidade como algo bom... e, no hinduísmo, até mesmo deus).

A prática das vias asiáticas e suas muitas doutrinas hindus, budistas, jainistas, vedantas e sramanas, assim como o espiritismo e vertentes ocultistas e xamânicas produzem "evidência" com atividades de delírios induzidos. Imagine ficar dormindo pouco e comendo menos em prática meditativa constante, já tendo um roteiro canônico e até mesmo uma condução metodológica que põe num trilho necessário a progressão do que acontecerá na prática. Não é surpresa que muitos "atingem" essa prática.

Algumas seitas usam repetição de mantras para induzir delírios, visualizações e êxtase. Hipnose básica. Drogas psicodélicas podem fazer o serviço em seitas xamânicas, produzindo a experiência psiconáutica que é interpretada à luz do sagrado, quando têm apenas o caráter catártico e auto-analítico induzido (e não sem riscos à saúde mental).

Para o escopo da mediunidade, uma típica "evidência" para deus, almas, anjos da guarda, entidades metafísicas e animais do poder consiste na ação da personificação de diálogos mentais e visualização imaginária em agentes externos. Aqui, entra o dualismo, ou seja, a hipótese da existência de uma alma extra-corpórea ou projeção mental que visualiza e experimenta os sentidos em outro lugar. Os estudos sobre fenômenos de projeção astral e experiência de quase morte indicam ser uma atividade interna ao cérebro, pois não houve interação com objetos de teste em ambiente controlado. Essas coisas só ocorrem aparentemente em contexto anedótico e narrativas miraculosas de indivíduos esperançosos. O que temos de compreensão científica atesta para uma probabilidade menos que ridícula para a existência de uma insubstancialidade da consciência, sendo esta bem localizada no cérebro e submetida à sua organicidade. 

Temos ainda a doutrina da oração, de magia ritualística, do efeito de desejos e intenções ("O Segredo" ou o rapaz da água entram como "evidência"), os falsos estudos de reencarnação com base em ferimentos herdados de outra vida, memórias de locais e coisas que não receberam uma atenção metódica e outras sortes de pensamento mágico e fantástico para o qual, com esperança e auto-indução, a experiência da própria psique produz nos "buscadores".

Mesmo versões enxugadas de toda a "bagagem dogmática", como o budismo racionalista e laico para ocidentais, não dispensam a crença num esvaziamento da vida interior e um "minimalismo existencial" cultivado, que consiste na negação da identidade entre o eu e a vida mental indesejada ("se libertando" do apego, da falsa felicidade, do pensamento, da intelectualidade e do eu) e que acaba produzindo uma passividade e o culto à relativização de qualquer ideia crítica, cujas consequências são indesejáveis. Anti-intelectualismo, contemplação vegetativa, a introspecção guiada pelos manuais para auto-indução dos resultados, e, por fim, a construção de seitas contemplativas com doações sendo a mais alta atividade moral. Que bom para seus dirigentes!
    A imagem mostra duas pessoas conversando no banco da praça. A primeira, uma mulher assinalada como "hinduísta orgulhosa", diz: "Minha religião é a mais antiga das religiões". O homem, entitulado como "racionalista", responde: "Parabéns... Vocês estão sendo enganados a mais tempo..."


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