O amor budista é amargo
Em primeiro, é preciso dizer que o budismo foi a minha religião por aproximadamente 5 anos. Conheço suas doutrinas pela parte do texto sagrado de muitas tradições. Conversei com professores dessas tradições e trouxe dúvidas, às quais me responderam sempre. Me envolvi. Tive contato com palestras dadas em retiro por legítimos professores tradicionais do mundo todo. Ao fim se tudo isso, hoje me considero adármico, ou seja, não-budista e descrente num darma (abaixo explicado) justamente por conta do conhecimento suficientemente aprofundado das doutrinas e das práticas.
O budismo é uma religião ou filosofia? Na Ásia considera-se que é uma religião, inclusive sendo a religião oficial de países inteiros. Temos o buda, Sidarta Gautama, que recebe honras como o fundador humano dessa religião/doutrina e como um ser perfeito e liberto do sofrimento. Temos budas de outras eras mitológicas ou budas celestiais/metafísicos. Existe no budismo elementos de teleologia e a cosmologia correspondente. Ele contém narrativas que descrevem inequivocadamente uma moralidade baseada nesses elementos. Existe um corpo sacerdotal que, considera-se, detêm melhor interpretação dos textos e a melhor prática dos princípios. Há um conjunto de rituais consagrados que inclui recitação de textos e fórmulas em língua litúrgica ou vernácula, segundo a seita. Faz-se um altar com oferendas diante do qual se executam prostrações. O altar pode conter imagens de budas e seres mitológicos, pergaminhos com doutrina e parafernália de altar (velas, incenso, alimentos e água), além de fotografias de pessoas que podem inclusive estar ainda vivas. Pode-se usar fórmulas para meditação que incluem visualização de textos compostos numa tradição contemplativa de mestras e alunes. O corpo sacerdotal e a atividade religiosa é mantida pela contribuição financeira de fiéis, gerando benéficos nessa vida e na próxima que são, por vezes, o que motiva a doação. O budismo promete uma libertação espiritual e psicológica que é a motivação primordial da adesão a ele, sendo uma doutrina bastante pragmática.
Muitos vão considerar que seja uma doutrina filosófica porque, em tese, dispensaria a crença em qualquer parte e poderia ser focado na contemplação meditativa. A tradição budista produziu versões racionalistas para o gosto da freguesia européia e americana; versões despojadas de algumas das coisas mais religiosas que sempre existiram na Ásia, como pedir favores aos budas, culto ao mestre (homem quase sempre) e até boa parte de sua teleologia cosmológica e moral. Existem versões do budismo que tentam justificar a humanidade de Sidarta, cortando fora ou descartando seu caráter perfeito e invulnerável. Aderentes desse reformismo extra-oficial querem historicizar os elementos sobrenaturais das narrativas, psicologizar a mitologia em si e cancelar as partes "feias". Ou culpar a humanidade por isso, escolhendo as cerejas mais bonitas. Faz tudo soar como psicologia social ou Campbell no "Poder do Mito", só que, às vezes, com roupas engraçadas e uma liturgia. Mesmo as orações e estatuária são suavizadas ao ser apresentadas como um modo de "entrar no clima". Alguns mais "laicos" dispensam mesmo isso. É uma produção desonesta para fisgar a doação e a adesão de pessoas que não aceitariam o budismo como ele realmente é praticado hoje em seu contexto próprio.
Um fato é que a prática do budismo não faz sentido sem o finalismo que seria a libertação de um ciclo de sofrimento que foi caracterizado como a reencarnação (ou o renascimento) repetindo-se indefinidamente. Você topará com descrições aguadas por aí que poupam a magia da coisa, mas o finalismo está aí.
O budismo foi chamado por sues primeires aderentes de buda-darma, ou simplesmente darma. Essa palavra significa tanto "ensinamento/doutrina" quanto "lei/verdade/princípio". O budismo não pode dispensar que existe um darma, ou seja, uma lei moral e natural (ao mesmo tempo) que regula o cosmo, que implica causa e consequência inevitáveis e que descreve a realidade nos termos da doutrina em si. Não havendo deuses eternos ou responsáveis pela criação, o darma seria o elemento central da devoção e a doutrina a ser confirmada pela experiência espiritual.
O darma é pernicioso no que tange à ideia de justiça cósmica. Assim, tem os mesmos prejuízos que a crença em deus ao prometer a retribuição do bem e do mal, criando justificativas para a desigualdade social e produzindo a indiferença no corpo de pessoas doutrinadas, o que, sem surpresa, se manifestou como aliança do budismo com o estado, algo bem forte ainda no Tibete e no sul asiático. Esse casamento da religião com o estado é a gênese da exploração da humanidade em toda a história. Quais formas de budismo sobreviveram? Geralmente, aquelas que foram favorecidas por monarcas e dinastias imperiais aqui e ali. Na Índia, por exemplo, o hinduísmo se aliou com as dinastias e o budismo foi assimilado ou varrido.
Seja em qual for a seita budista, o darma informa que a realização profunda e satisfação existencial não está em nada dessa vida, mas na calma provinda de um desapego ao resultado dos eventos e a aceitação radical. A pessoa se tornaria como o mestre Yoda, meio ensaboada quanto ao pensamento lógico e com algumas ideias de sabedoria igualmente escorregadias. O darma sempre inclui dizer que é possível uma impessoalidade desejável ao lidar com as coisas e que essa impessoalidade implica conexões fracas com a comunidade, com outrem e até com a auto-imagem, pois a ideia de uma individualidade é uma ilusão, sendo algo que não tem solidez. Conexões fortes implicam apego. Você frequenta o mesmo lugar que aquelas pessoas, mas elas desistiriam de você facilmente caso isso soasse sábio.
O clima anti-intelectual e "apolítico" é forte mesmo entre as seitas que interpretam mais literalmente as escrituras e que aderem à sua lógica formalmente. E isso é muito mais verdadeiro quanto mais entre as seitas que parecem olhar para a doutrina como uma indicação de algo inenarrável e irracional, que pode ser acessado por meio dessa apreensão misteriosa.
Aqui, usada como auto-hipnose e modo de interrupção do pensamento, a meditação pode amolecer a racionalidade do indivíduo e aprofundar a sugestão positiva que produz a experiência descrita nos manuais de meditação e na literatura budista. Não é uma surpresa que a mente sugestionada interprete seus fenômenos interiores segundo o trilho da tradição contemplativa. Por isso, a auto-sugestão é um elemento chave na prática budista; retiros incluem privação do sono, alimentação irregular e repetição litúrgica que reforça o caráter hipnótico e criar a ideia da pureza, transcendência ou santidade na pessoa. Na vida de pessoas monásticas, isso pode ser constante, produzindo as pessoas mais obstinadamente convencidas dessas "verdades". Em algumas seitas, o mesmo efeito auto-sugestivo pode ser obtido com a mentalização robótica de algum mantra ou nome em língua litúrgica.
Um dano cognitivo horrível do budismo é que a noção de auto-importância e de importância da realidade objetiva é amolecida, e, idealmente, tornada frouxa. Seria bom ver o mundo e seus eventos como sonhos. Entra a personagem caricata aqui de uma pessoa com frases misteriosas e raciocínio escorregadio. O budismo fará a pessoa que for longe na via contemplativa se tornar um tipo ascético, mesmo que não tenha comportamento tão ascético quanto pessoas monásticas contemplativas indianas da antiguidade. Viver um asceticismo material (celibato, pobreza, obediência etc.) pode ser secundário na maioria das tradições budistas. Com o tempo, as doutrinas chinesas, tibetanas e japonesas foram incorporando não-dualismo hindu e passaram a relaxar a disciplina monástica, o que ocorreu menos na Tailândia, no Sri Lanka e no Mianmar. Mas em toda parte existe uma doutrina ascética na filosofia, um asceticismo mental ou o que Nietzsche chamaria e asceticismo: a ideia de uma esfera supraterrestre.
A via ascética em Nietzsche significa desprezar a realidade e não realizar o potencial humano no mundo, pois essa vida e esse mundo imperfeito seriam secundários diante de outro mundo ou outro estado mais perfeito, para o qual vale a pena "se preparar". A consequência dessas crenças é danosa para a humanidade como um todo, deixando de lado questões reais por fantasias metafísicas e idealizações perigosas, que produzem inclusive imoralidade e degeneração.
Não existe ideia de uma esfera supraterrestre mais coerente em si mesma que Nirvana, a Extinção. Seria o fim da existência como um ser preso em causas e condições, algo alcançado pela prática do amolecimento mental (não desejar, suspender o julgamento, ser acrítico e até indiferente). Ocorre o gradual afrouxamento da personalidade e da razão. A partir daí a pessoa experimentará êxtase, uma mente sem pensamentos, regressão (memória de outras vidas), telepatia, poderes mágicos, etc. A fundação do budismo vem de uma narrativa de Sidarta ter experimentado exatamente isso. O ideal ascético tem, no budismo, um desenvolvimento mais convincente que qualquer doutrina teísta. Isso é duplamente perigoso.
Pode ser que nem todes budistes hoje acreditem na parte mágica porque o Dalai Lama e outres monástiques estão falando em ciência, estado laico e fazendo eletroencefalograma que mostra sua capacidade de alterar por vias meditativas as ondas cerebrais. Essa amizade com pensamento europeu e americano é uma forma de divulgação de um budismo aguado. O mesmo efeito propagandístico ocorre com o budismo "laico", "ateu" (todo budismo é não-teísta), entre outras versões não-monásticas dissidentes e com vestimenta racionalista.
Na prática, porém, os efeitos de despersonalização e enfraquecimento cognitivo programado do budismo tornam ele uma religião conveniente ao poder, como dito acima. O senso comum no meio budista, assim como noutros círculos esotéricos, rejeita debates sobre questões políticas e reais do mundo com o aceno de jargões do mestre Yoda. As pessoas que praticam não estão em condição neuropsicológica de criticar algo, hipnotizadas em ladainhas de amor e aceitação que suspenderão o julgamento quando a situação sugerir conflito (algo inevitável na realidade) ou crítica à doutrina. As respostas saltam prontas de uma programação psíquica.
Parte da eficiência de qualquer coisa do tipo repousa em algum valor real. De fato, a meditação produz benefícios cognitivos e o budismo primitivo aderiu às melhores técnicas indianas existentes a 2500 anos. De fato, mentalizações de "amorosidade" para com todos os seres e sensações de compaixão universal produzem bem-estar extremo (eram minhas favoritas na época que pratiquei). De fato, doutrinas do outro mundo e de uma justiça moral no universo baseada em valores pacíficos produzem uma satisfação intelectual e um apaziguamento. A doutrina em si é coerente na sua lógica interna, tem um ar de "encarar a vida como ela é", que foi o que me atraiu, mas que, porém não se sustenta quando praticado. Se torna "ver a vida como a doutrina budista sugere que ela seja". Há muito script para ser seguido e pouca abertura.
É alto o custo do uso perverso de boas técnicas meditativas para fortalecer a dissonância cognitiva do praticante. O bem-estar emocional produzido pela indiferença intelectual e moral quanto ao mundo real e suas contradições torna tudo uma grande armadilha. A religião com seu papel anestésico está presente em sua totalidade. Sair do budismo e reconstruir minha psique é um processo ainda em andamento, desfazendo a doutrinação que ainda se interpõe quando estou pensando criticamente e com os dois pés no chão da realidade da vida. Que era o que eu queria desde o começo.
A imagem mostra Sidarta com cabelos pretos presos num coque ao topo da cabeça. Usa um manto laranja que deixa o ombro direito exposto e pende solto no torso e tem suas pernas cruzadas. Suas mãos estão contidas no colo, a direita sob a esquerda. Ele se encontra numa plataforma aos pés de uma figueira, cercado por seres demoníacos com chifres e dentes proeminentes e pele vermelha dos dois lados. Há quatro desses seres na imagem. Têm cabelos compridos e usam colares e cintas decoradas e brincos chamativos com caveiras. Do lado direito, há duas mulheres voluptuosas com diademas, colares, brincos e pulseiras. Usam camisas curtas e saias decoradas com padrões luxuosos. Uma está dançando e a outra tocando um tambor. Há ainda um guerreiro segurando o arco e fazendo menção de ter disparado uma flecha na direção de Sidarta. O guerreiro está representado com uma coroa aristocrática, o típico cabelo longo e bigode da casta guerreira, usa brincos e veste um xale amarelo e calças amarradas com um pano verde. Suas vestes representam tecidos luxuosos, seu torso está desnudo. Essa imagem representa as tentações de Sidarta na ocasião em que, conta-se, despertou meditando aos pés de uma figueira-das-pagodas.
Caro Luiz : você errou no seu julgamneto e nem teve acesso ao verdadeiro Dhamma (que não é invenção do Buddha), mas as leis da natureza que somente um Buddha PODE DESCOBRIR POR SI MESMO... UM Buddha nã inventa nada, Ele descobre por si proprio o Dhamma, mas o ser humano comum pode comtreender se for ensinado a ele. Dos 100% do budismo do mundo 99% ou mais, não conhece o verdadeiro Dhmma mas o falso Dhmma ou adhmma. E saobre a população da terra qye quase dobrou, somente o nº de formigas do planeta é responsavel por mais da metade do massa ou do peso. O Renascimento budista todos os seres vivos participam. Menos os vegetais porque não sentem. Mesmo uma formiga teme pela vida e foge se for ameaçada...Não pense que voce é o melhor nem o pior. Procure o verdadeiro Dhmma, talvez se voce for menos prepotente e um pouco mais de humildade (não faz mal), Voce poderia acreditar. O planeta terra tem 4,5 bilhoes de anos... O Senhor Buddha olhou pa\ra sua vidas passadas e não conseguiu ver inicio para o mundo e nem para os sres...O Buddha Gotama é 4º Buddha deste Eon...Até os Yogues hindus conseguem ver vidas passadas através da meditação. Mas só pela meditação é impossivel conhecer o Dhamma. Voce tem que ter acxesso ao verdadeiro Dhmma...Depois critique...
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