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Mostrando postagens de maio, 2021

Fragmentos Irreligiosos V

O darma dos budas de todos os tempos é um ensinamento que vê tudo que temos como verdade como meras ilusões e criações da nossa confusão existencial. Essa própria doutrina nasce da confusão existencial de quem a escreveu (um corpo de monges celibatários num período próximo ao começo da era cristã). Nada poderia ser mais fantasioso que esse tipo de visão que confunde delírios sugestionados de ascetas famintos e com privação de sono com algum tipo de revelação. Talvez fosse conveniente num tempo de miséria, exploração e guerras brutais negar a existência do mundo e da realidade do próprio eu. A partir dessas doutrinas que desprezam a vida natural, se construiu um monumento à míngua da humanidade, à demolição de seu potencial como espécie e um amor à aniquilação da própria existência. Ora, Nibbana significa "aniquilação", o mesmo que ir além dessa existência. É, essencialmente, um culto do além-vida como uma promessa de cessação de nossos infortúnios. Daí que os sistemas de medi...

Como é a vida sem religião

Eu já não tenho paciência para meias palavras. Prefiro o jogo limpo: são bobagens ideias religiosas que ontem eu defendia. Não me envergonho de ter modificado minhas opiniões muitas vezes a longo da vida. Tudo isso está indo numa direção de mais clareza e bom-senso, uma depuração. Por exemplo, antes de ser budista, eu acreditava num universalismo "salada mística". Cabala, espiritismo, hinduísmo, Osho: pode mandar. Tudo é válido. Só que isso tem uma consistência de diarreia, porque cada um fala uma coisa e nada faz sentido. Eu sentia que estava, no fundo, falando um monte de bobagens bonitinhas e superficiais. O universalismo é superficial.  O budismo é coerente internamente como um sistema fechado em si mesmo, algo que tem uma direção mais ou menos definida, apesar das centenas de seitas budistas acrescentarem a confusão sectária. Às vezes, pensando em ter acreditado em coisas como carma e autorregulação cósmica da justiça moral, fico decepcionado comigo mesmo e penso como pu...

Materialismo e maravilhamento

Pergunta: O materialismo não é muito seco e desprovido de poesia? Sigo uma religião pela beleza de suas narrativas e pela singeleza de suas mensagens. Eu: A pessoa materialista tem um maravilhamento com a vida até maior que uma pessoa iludida. Não precisa de personagen e de simplificar as complexidades. O pensamento desejoso não tenta moldar nem o cosmo nem a natureza humana com delírios que na verdade são feios e fadados a se tornar a zombaria de gerações vindouras. Os mistérios do universo encantam. A poesia da natureza é muitas vezes mais surpreendente que a imaginação dos teólogos e místicos. Estes tem uma criatividade bem lamentável, na verdade  Um poema: O sábio do Tibete ou da Índia num tempo de Govinda e Gopala prega um vazio um tanto vago, que não me parede nada: "Não tente nada, não deseje nada. Esteja sempre na mente pura sem um grão de poeira, sem desejar nem adicionar." Sinto muito, não sou estátua. Que o vazio é vazio, todos sabem e que sua mente é vazia  já sus...

Fragmentos irreligiosos IV

 Fora do materialismo como perspectiva para compreender não somente a economia e a sociedade, mas também as ideologias e a metafísica estão concepções idealistas, nas quais as superstições e os mitos estão como elegantes convidados. Em tempos de mais esclarecimento e do avanço das ciências como modelos explicativos satisfatórios, o mito agora ganha um verniz de crença inofensiva que anda de mãos com a ciência. Supõe-se que deveríamos esquecer que por milênios a religião foi a causa de muitos limites ao livre pensamento e ao avanço de nossa compreensão do universo, e até de filosofias satisfatórias para lidar com questões espirituais da humanidade.  É preciso dizer de novo e de novo à exaustão: as crenças no sobrenatural, em darmas (leis cósmicas), na magia, na oração, em divindades, espíritos, demônios e possessão, assim como numa essência humana segundo a descrição dos textos religiosos são obstáculos para o desenvolvimento de nosso conhecimento. Não se tratam de questões nat...

Ateísmo e agnosticismo

Imagem
  Esse gráfico é fonte de erros conceituais. A imagem representa um gráfico de dois eixos: um deles é teísta-ateísta, que representa a crença e não-crença em deus, e o outro gnóstico-agnóstico, que representa certeza ou incerteza. Daí gera as combinações: gnóstico teísta, agnóstico teísta, gnóstico ateísta e agnóstico ateísta. Ser teísta ou ateísta não implica 100% de crença na hipótese 'deus existe' ou 'não existe'. Somente uma pessoa muito equivocada (e/ou alucinada, no caso teísta) poderia achar que existam provas concretas para a certeza total. Na negativa da existência de algo, seja deus ou unicórnios, 100% de certeza é inatingível, exceto pela teimosia e abandono do pensamento racional. Se você responde 'provavelmente' ou 'muito provavelmente' sim ou não para a pergunta 'deus existe?', parabéns. Você é teísta ou ateísta. Crença aqui é usada num sentido filosófico e nada tem com fé. É apenas o nível de credibilidade que se dá a uma hipótese....