Os ganhos de uma meditação materialista
A meditação sem doutrinação ascética budista/hindu tem um potencial muito maior de produzir o autoconhecimento. Não há mais três ideias malignas e corruptas dessas doutrinas:
1. A ideia de que há estados mentais (pensamentos, emoções, sensações etc.) bons ou maus em essência, levando a exaltar uns e reprimir os outros. Essa ideia de dirigir a mente e policiar o pensamento leva à distorção da experiência psíquica;
2. A ideia de que existem estados "vazios" ou "puros" nos quais a mente tem algum tipo libertação ou revelação, o que reforça sugestionamentos para confirmar as superstições;
3. A perseguição do êxtase, isto é, de absorção meditativa que produz estados alterados de consciência geralmente em retiros com privação sono, alimentação irregular, recitação monótona e hipnótica de texto em língua morta e a contemplação de manuais que descrevem tais estados de consciência. Estes são a base para a ideologia religiosa se legitimar, afinal tal êxtase é lido pela mente sugestionada como "o despertar" ou alguma outra ideia de transformação permanente da pessoa numa forma santificada, etc. Não passa de êxtase provocado por sugestão, obviamente.
O perigo dos últimos dois itens está na pessoa querer adequar-se a narrativas do sobrenatural, entrando numa espiral de ideias do paranormal e da transcendência da "mera condição humana", levando a pressionar-se para adequar seu comportamento e sua personalidade ao ideal inexistente e artificial de pessoa "iluminada", "santa" ou de algum modo "superior". Muitos males advém da continua repressão da psique natural para emular tais superstições, que podem adoecer profundamente a pessoa, levando-a a crises psicóticas de muitos tipos. Não são raros os relatos de distúrbios alimentares, abuso sexual, abuso de drogas, experiência de despersonalização e a experiência de episódios esquizóides relacionados à ilusão religiosa (ouvir vozer, ver fantasmas e entidades, poderes mágicos, obsessão espiritual etc.). Esses males se ampliam porque são validados por uma comunidade religiosa que, com ideologia de controle mental, usa esse tipo de experiência iludida para validar a sua doutrina, adequando de modo desonesto a experiência psíquica esquizóide e alterada de alguns praticantes como ideal e escondendo ativamente as consequências negativas ou racionalizando sua existência com fraseados de seu texto religioso ou de argumentação ad hoc.
A observação do processo meditativo (incluindo corpo/mente e arredores) com uma atitude de aceitação aos estados psíquicos normais e o cultivo de uma apreciação e atenção para com o próprio corpo/mente eviram todas as consequências mencionadas acima. O abandono dos três problemas listados torna a meditação irreligiosa melhor em três pontos equivalentes:
1. O acolhimento de qualquer experiência na meditação sem valoração possibilita viver os estados físicos e mentais com realismo e atenção. Vivenciar tais estados de forma natural produz cura, compreensão, alívio e conhecimento profundo;
2. Sem doutrinação para gerar auto-sugestão, se garante o transcorrer da meditação com proveito. Sem seguir manuais do asceticismo, é possível avançar no processo de modo auto-determinado;
3. Sem ideias do transcendental, a vida psíquica natural é o objetivo. Aqui, "natural" não tem nenhuma conotação mística, apenas indica a ausência de ideias mágicas/transcendentais. Meditar visa uma vida saudável, sublinhando a importância dessa vida real e desse mundo real, o que é mais recompensador na almofada e fora dela.
Se critica aqui a meditação do tipo budista/hindu, mas não é um elogio à meditação com base em ideais monásticas do ocidente. Nem me faça começar a falar sobre meditação com base em dogma teísta e seus males! Esse tipo de sugestionamento na leitura de textos religiosos e ideias de uma deidade é uma maldição na história da humanidade, fonte de muita ilusão.
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