Criticando ideias ascéticas 3

 "Por isso, vos digo: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e a quem bate, abrir-se-lhe-á. Qual dentre vós é o pai que, se o filho lhe pedir [pão, lhe dará uma pedra? Ou se pedir] um peixe, lhe dará em lugar de peixe uma cobra? Ou, se lhe pedir um ovo lhe dará um escorpião? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?" - Lucas 11:9-13

"Nada fracassa como a oração." - Dan Barker

Estudos diversos mostram que orar não é melhor que o puro acaso para obter alguma coisa, exceto no pequeno grau em que possa acalmar a mente da pessoa, como um efeito placebo.

No final, a esperança na oração é a esperança de que algo no universo se importa com nossas ideias, sensações, julgamentos e destinos. Isso só pode ser pensamento desejoso. Não existe qualquer tipo de argumento que mostre que somos especialmente importantes e que o cosmo tenha uma personalidade materna e protetora para conosco. O que vemos é que, se algo se importa com a humanidade no cosmo é a mesma humanidade.

Para a mente de ancestrais primitivos, cruéis e bárbaros como os nossos, parecia logicamente necessário que alguém ou algo lá fora entendesse nossas desgraças, caprichos, necessidades e vontades. As pessoas se sentiam o centro do universo, por ver sua superioridade intelectual acima dos animais e por ser capaz de racionalizar explicações para eventos no mundo, atribuindo a uma mentalidade sem corpo propósitos observados na natureza. Faz parte do nosso viés mentalista supor agência na natureza, para o bem e para mal. No caso da hipótese teísta, esse é um subproduto ruim.

A crença numa lógica cósmica flutuando no universo fora da criação intelectual humana está presente também em tradições não-teístas que pregam uma lei impessoal, como o budismo (embora existam budismos teístas também). É igualmente colocada para funcionar por nosso viés evolutivo para encontrar soluções diante de eventos inexplicáveis. Nesse caso, o mentalismo não é o mecanismo mais forte, e sim o apelo à produção de sentidos inventados e a capacidade de satisfazer-se com estes.

Nossa cognição não está feita para buscar a realidade dos fatos, mas fazer funcionar as coisas para seguir sobrevivendo e reproduzindo. Reproduzindo fisicamente e ideologicamente: repetindo padrões familiares e evitando incertezas. Uma explicação capenga frequentemente satisfaz muitas pessoas, desde que tenha argumentos que parecem agradáveis a suas ideias iniciais. É somente por essa razão que multidões ainda recorrem a magia, misticismo, sistemas de pensamento fechados, doutrinas políticas conservadoras e qualquer câmara de eco para o que lhe convém.

A partir do momento que o pensamento crítico entra, a zona de conforto ficou para trás. Vamos para onde a evidência nos leva, ignorando qualquer ladainha, por mais bonita e conveniente. Se fizermos isso, temos que jogar fora a ideia de que o universo se importa, de que a humanidade é especial e de que nossa razão pura, através de construções aparentemente intelectuais, pode explicar algo. Não pode!

A partir daí, a crença na oração já não faz sentido porque não tem qualquer evidência. Seus efeitos positivos podem ser obtidos por práticas benéficas, como a meditação, filosofia e relaxamento, sem recorrer no mal que as crenças irracionais trazem.

Não orem, melhorem.

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