Friendzone: um conceito tóxico
Não entendo e nunca entendi o conceito de friendzone.
Nunca entenderei aproximar-se de alguém somente para conseguir um relacionamento sexo-afetivo e ser legal buscando obter algum "favor especial"; penso que isso é objetificação das pessoas. Desde meus tempos monogâmicos seriais, pensava que era bom ser direto e deixar claro que queria uma relação sexual, se fosse o caso, e desenvolver sempre vínculos sem interesses fixos, sem estratégias para conquistar a pessoa ou alguma coisa assim. Me lembro de sofrer a insegurança de não saber se a pessoa gostava de mim, mas facilmente podia deixar de lado ou superar a rejeição; isso pode ter a ver com meus privilégios estéticos, de gênero, de classe social e raça, mas também tem a ver com um relacionamento romântico que tive na adolescência que me ensinou a aceitar a rejeição e buscar reciprocidade nesse caso.
Para fora de minhas questões pessoais e individuais e pensando fora da lógica amatonormativa, obviamente uma obsessão em concretar a forma-casal como ideal por um lado e uma obsessão com sexo genital por outro são dois problemas imensos na nossa cultura relacional, mantendo as pessoas em ciclos viciosos frustrantes e criando uma maneira de viver a afetividade muito limitada e, como já observado, objetificante. Alguns dos meus vínculos mais profundos não têm componentes românticos ou sexuais e passam muito longe da forma-casal, sendo mais saudáveis por isso, justamente porque esses vínculos normativos são muito condicionais e valorizam obter algo e mantê-lo o máximo de tempo na mesma, congelado no tempo. Não há amor e afeto se estamos priorizando nosso ganho no vínculo e se não estamos abertos a permitir a mudança de seus conteúdos com o tempo.
Concluo que a cultura relacional obcecada com diferenciar "somente amizade" de formas análogas ao casal é um câncer cultural e que as relações que mais consideramos profundas e amorosas sob a amatonormatividade são, na verdade, as mais tóxicas e psicologicamente violentas. Não se trata apenas de uma crítica ao masculinismo e seus red, black e não sei que mais pills, mas também uma crítica à cultura amorosa contemporânea, monogâmica ou poliamorosa por igual. Para mim, essa crítica nasceu de frustração com relações casuais e de casal, e sobretudo amizades que tive com pessoas buscando, às vezes por décadas, obter algo de mim sem conseguir e se tornar hostis depois.
Morte à essa merda! Tratemos a pessoas como seres vivos que possuem suas emoções e que mudam com o tempo, não objetos colecionáveis.
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