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A importância da comunicação em relações não-normativas

Queira estejamos falando de relações românticas/sexuais ou vínculos de todos os tipos, se estamos tentando fazer algo fora das normas relacionais (monogamia, amatonormatividade, heterocisalossexismo, etc.) será importante desenvolver habilidades comunicativas e perder bloqueios com o sentar-se e conversar os detalhes sórdidos da coisa porque, se estamos atuando fora da norma, temos que ter o cuidado de evitar assumir as coisas que se reproduz sem pensar nas situações normativas. Estamos em território de "artesania relacional", havendo a necessidade patente de deixar explícitas as nossas expectativas, limites e modos de levar as coisas, buscando negociar diferenças e compreendendo de antemão o que não queremos. (1) Quando temos uma situação de indicar indiretamente, com pistas ou frases soltas, algo que sentimos ou uma necessidade que temos, pode parecer injusto que a outra pessoa não "capte" a mensagem e nos obrigue a explicar nossa emoção ou necessidade, mas isso v...

Friendzone: um conceito tóxico

Não entendo e nunca entendi o conceito de friendzone. Nunca entenderei aproximar-se de alguém somente para conseguir um relacionamento sexo-afetivo e ser legal buscando obter algum "favor especial"; penso que isso é objetificação das pessoas. Desde meus tempos monogâmicos seriais, pensava que era bom ser direto e deixar claro que queria uma relação sexual, se fosse o caso, e desenvolver sempre vínculos sem interesses fixos, sem estratégias para conquistar a pessoa ou alguma coisa assim. Me lembro de sofrer a insegurança de não saber se a pessoa gostava de mim, mas facilmente podia deixar de lado ou superar a rejeição; isso pode ter a ver com meus privilégios estéticos, de gênero, de classe social e raça, mas também tem a ver com um relacionamento romântico que tive na adolescência que me ensinou a aceitar a rejeição e buscar reciprocidade nesse caso. Para fora de minhas questões pessoais e individuais e pensando fora da lógica amatonormativa, obviamente uma obsessão em concre...

O livre-pensamento e a expressão religiosa minoritária

Uma das bases do pensamento anarquista, sedimentadas desde um espírito que supera contradições iluministas por uma saída radical, é o anticlericalismo e a oposição à crenças sobrenaturais e explicações dogmáticas, fundamentadas na autoridade espiritual. Bakunin denuncia, em seu escrito fragmentário "Deus e o Estado", que a religião é uma das bases ideológicas da exploração tanto espiritual quanto material da população por classes dominantes de líderes apoiados por sacerdotes (ou mistura das duas coisas, como reis que foram líderes de suas igrejas estatais, por exemplo). Daí em diante, o anarquismo passou por muitas novas discussões, incluindo versões mais amigáveis à religião e abertamente confessionais. Contudo, essas seguiram sendo visões minoritárias, e uma das características dos amplos movimentos anarquistas se tornou o livre-pensamento. Com o advento de abordagens críticas ao método científico e ao que se chama incorretamente de "cientificismo" (uma suposta cr...

Grupos Anônimos (12 passos) são um problema sério

Eu costumava ter transtorno de uso de álcool. Muitas pessoas conhecem as famosas comunidades terapêuticas baseadas nos 12 passos, como Alcoólicos Anônimos e outros grupos Anônimos (Al-Anon, Dependentes de Amor e Sexo, Narcóticos, Nicotina, etc.). Participei desses grupos após ter contato com uma pessoa da mesma religião que praticava na época, e tive uma experiência tão horrível com a mentalidade desses grupos que até colocou em risco minha recuperação desse transtorno por algum tempo. Esses grupos funcionam basicamente através de cura pela fé: a pessoa recebe a sugestão insistente de que deveria seguir doze passos para recuperação. Os passos são: 1º. Admitimos que éramos impotentes perante a nossa adicção, que nossas vidas tinham se tornado incontroláveis. 2º. Viemos a acreditar que um Poder maior do que nós poderia devolver-nos à sanidade. 3º. Decidimos entregar nossa vontade e nossas vidas aos cuidados de Deus, da maneira como nós O compreendíamos. 4º. Fizemos um profundo e destemid...

O problema com o budismo

Sempre que surgem críticas à religião pelos muitos problemas sociais, psicológicos e ideológicos causados por esse tipo de doutrinas, alguém vai dizer que o budismo não é assim. As outras religiões sim, o budismo não. Existe uma percepção, especialmente comum no ocidente, de que o budismo é uma forma de pensamento superior às demais religiões e ideologias religiosas/espirituais (1). Oras, muitas vezes nos dirão que o budismo não é uma religião, mas sim uma filosofia de vida, ou algo assim mais elevado que “meras religiões”. Essa é uma percepção problemática, na minha opinião. Existe uma espécie de mistificação do budismo nesse sentido que acredito que precisamos superar para apontar problemas sérios. O budismo não é uma filosofia de vida superior às demais doutrinas religiosas/espirituais e compartilha com elas muitos de seus problemas e limitações. As críticas que se fazem à religião organizada encaixam como uma luva para o budismo também. Esse é meu principal argumento. Aliás, é comp...

A lógica criacionista se derrota a si mesma

Muitas pessoas que acreditam num deus criador não se metem a pensar que essa ideia tem alguma comprovação: dizem que procede da fé. Esta é uma postura honesta e respeitável. Porém, umas poucas pessoas desonestas intelectualmente querem fingir que essas ideias podem ser absolutamente conhecidas pelo intelecto através de pensamento indutivo e dedutivo. Inventam vastos campos de construtos pseudo-lógicos para cuspir a conclusão: só pode ter sido o universo criado por um deus eterno. Depois de todo o cansado trabalho de suas falácias, com o intelecto insatisfeito (se o possuem), buscam atacar a quem percebem como seus rivais, as pessoas ateias ‐ nós. Dizem de nossa posição: "Vocês estão fora da sanidade por querer propor que o universo surgiu de um passe de mágica." Que afirmação tão ousada quanto estúpida! Minha boa alma iludida, preste atenção e anote bem: o ateísmo não afirma nada sobre a origem de nada no universo. Não temos o compromisso nem o dever de explicar coisas que nã...

Nenhuma ideia de paraíso faz nenhum sentido

Eu já expliquei porque um céu onde ficamos venerando eternamente a deus e cantando glórias seria algo bastante desagradável e infernal e que esse deus que necessitaria de louvor e nos teria criado para louvá-lo seria uma entidade que deixaria a desejar em muitos critérios do que seria um ser maximamente bom. Agora, eu desejo mostrar incoerências lógicas em qualquer ideia de paraíso que qualquer teísmo possa vir a ter. É importante definir o que eu quero dizer com "paraíso": seria a recompensa divina eterna após uma vida virtuosa e adequada na Terra. Esse é o escopo dessa crítica. (1) Bom, tendo definido o objeto da crítica, vamos partir para os pormenores da questão:  Muitas formas de teísmo, como o islamismo e tipos diferentões de cristianismo, pregam que deus vai proporcionar uma mansão no céu para as pessoas que forem salvas e que lá terão luxos e felicidade eterna, virgens (se forem homens, suponho), ruas de ouro, leite e mel... Vamos supor que seja uma metáfora, porque o...